terça-feira, 14 de junho de 2011

Organização dos tempos escolares no ensino fundamental: séries e ciclos

Texto crítico proposto pela Profª Drª Marília Claret Geraes Duran para o módulo  18 do curso de  Pedagogia da Universidade Metodista:
Problemas contemporâneos: desafios para a escola, sob o tema: Organização dos tempos escolares no ensino fundamental: séries e ciclos, levando em consideração as entrevistas da teleaula, sobre a abordagem da problemática da progressão continuada, ciclos e séries – concepções e contradições, sendo este desenvolvido a partir das seguintes intervenções;

A – Intervenção por Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho
B _ Intervenção pó Prof. Dr.  José Luis Feijó Nunes

Introdução
O presente texto tem a finalidade de apresentar e compreender os pressupostos e desafios advindos das políticas de reorganização dos tempos e espaços escolares. Problematizar diferentes perspectivas de organização da escola em ciclos, seus caminhos e descaminhos evidenciando a cultura que a escola em ciclos gerou.

Considerando as constantes mudanças do homem na sociedade e de suas relações entre si e destes com a natureza, transformando o ambiente e o espaço histórico ao longo do tempo, é possível conceituar um novo paradigma na estrutura política educacional do país, por meio da instauração do sistema de progressão continuada e o ensino em ciclos, que surgiu na década de 60, mas que ganhou força na década de 90, tornando-se um assunto polêmico na bancada de debates e discussões que evidenciam essa nova forma de introdução do ensino, sendo hoje uma referência nas escolas das redes públicas Estadual e Municipal onde a aplicação desse sistema se torna obrigatório.

A nova organização da escola para a prática do ensino passa a ser em ciclos, determinando tempos escolares no ensino fundamental. Compreendem-se os ciclos como uma nova divisão do ensino fundamental estabelecidos por dois blocos, o primeiro considerando da 1ª a 4ª série, chamado de ciclo básico ou ciclo da alfabetização. E o segundo considerando da 5ª a 8ª série.

O que traz polêmica e é explicitado nesses ciclos, é que , nos períodos que compreendem o 2º e 4º ano do primeiro ciclo, assim como o 6º e 8º ano do segundo ciclo, os alunos não são reprovados, tendo a garantia de ser promovido no ano escolar, passando então para o ano escolar seguinte, o que caracteriza o processo da progressão continuada, que nada mais é do que um processo que irá garantir ao aluno prosseguir continuamente, sem prejuízo de regredir (repetir de ano) na sua trajetória escolar nesses períodos.

Passemos então às seguintes intervenções:

A – Por Prof. DR. João Cardoso Palma Filho
Secretário adjunto da Secretaria de Educação de São Paulo, questionado sobre o que se precisa para ter uma educação de qualidade, sobre ciclos, tempos e espaços escolares. Como é sabido, mencionou que a situação educacional não é nova, mas já vem a décadas, desde 1960, 1970 com experiências demarcadas, e retomadas na década de 80, ganhando força na década de 90, sendo implantada a partir do ano 2000 nas redes públicas de ensino em caráter obrigatório.

Esse sistema tem a proposta da universalização do ensino fundamental, que considera levar para a escola toda pessoa em idade escolar.
Aponta que quando o ensino era seletivo, não se falava na questão dos ciclos. Para ingressar no antigo ginásio, passava-se por uma seleção, e entravam os melhores.

Em 1988 é formado obrigatoriamente o ensino fundamental, e então houve a necessidade de organização do currículo escolar, e uma preocupação com o aluno seguir e obter sucesso escolar, reorganizando então, o ensino em ciclos. Verdade, porém, é que não se conseguiu meta de 100% em avanços e o desempenho não era o que se esperava.

De acordo com Palma Filho, “temos que considerar que educar é uma causa complexa”, Outras variáveis começam entrar no enfoque, por exemplo, a quantidade de alunos de forma adequada numa classe de alfabetização compreendida no primeiro bloco de ciclos do Ensino Fundamental, que para ele seria um ideário de 25 alunos, pensando alto, chegaria perto de 30 alunos, o que já seria muito para uma classe de alfabetização.

Um percentual de 40 a 45 alunos para esse ciclo torna-se inviável, mas não se pode negar que o que mais ocorre realmente, é encontrarmos esse numerário em salas de aula deste ciclo, o que dificulta extremamente o processo do ensino-aprendizagem, uma vez que nem todas as crianças aprendem do mesmo jeito e ao mesmo tempo, justamente pela diversidade que há entre os alunos, tornando-se um complicador párea a prática pedagógica do educador, tendo este ter que atender às necessidades de cada aluno, ter um olhar observador para reais dificuldades década aluno, para atuar de forma que venha alcançar um melhor desempenho pedagógico, que produza um ensino de qualidade.

Para Palma Filho, “a alfabetização é fundamental e necessária”, por isso, precisamos como educadores, ter a algfabetização como princípio primordial do ensino no ciclo básico, para fundamentar o ensino fundamental II, oportunizando ao aluno progredir, sim, de forma continuada e satisfatória,  no que diz respeito a uma real aprendizagem e domínio da língua portuguesa, tornando-se de fato um aluno devidamente alfabetizado ao passar para um novo ciclo.

Entretanto, com a legitimação da política proposta para as redes de ensino, evidenciando a progressão continuada e o ensino em ciclo no Ensino Fundamental, muito se tem perdido do processo da alfabetização, acontecendo dos alunos sofrerem a progressão continuada e concluir o E. Fundamental sem ao menos saber ler e escrever. Infelizmente isso tem acontecido e em proporções muito grandes.
Isto se dá pela progressão continuada? Pelo ensino em ciclos, pela conduta do educador diante desses pressupostos pela acomodação do aluno em não precisar de esforços para ser promovido pela escola para prosseguir no ano seguinte, deixando os estudos de lado? Cabe a escola problematizar e gerenciar esses aspectos relacionados como forma de organizar-se melhor dentro dessa nova política educacional, através de mecanismos e dinâmicas favoráveis ao processo do ensino aprendizagem efetiva do aluno.

Assim, “cada escola é uma escola” (Palma Filho), tendo cada uma em particular, uma forma diferente de avaliação e análise do sistema educacional, criando possibilidades de implantar os pressupostos da nova política educacional para o país, sem prejuízo para a aprendizagem do aluno.   

B - Intervenção por Prof. Dr. José Luis Feijó Nunes

Para Nunes, vive-se um resgate histórico das experiências de introdução dos ciclos nas redes escolares. E hoje podemos ver uma abrangência e configuração atual das escolas organizadas em ciclos no país, com dimensões enfatizadas, omitidas ou pouco exploradas entre os educadores, como teor de fundamentação e implementação que gere resultados positivos a partir dessa intervenção.

A implantação do regime de ciclos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tido como ciclo básico, ou ciclo de alfabetização, tendo como principal referência, as iniciativas desencadeadas em redes de ensino, sendo intensificadas a partir do final da década de 90, período em que ocorre a extensão da organização escolar em ciclos para todo Ensino Fundamental nas redes escolares estaduais e municipais.

Os ciclos projetam a intenção de regularizar o fluxo dos alunos ao longo de sua escolarização, a fim de assegurar que todos possam cumprir os anos de estudos previstos para o ensino obrigatório, sem interrupção e retenções que inviabilizem a aprendizagem efetiva e uma educação de qualidade.

Contudo, a progressão continuada aliada ao ensino em ciclos, tem sido caracterizada por associação à promoção automática, avanços progressivos para alunos do Ensino Fundamental.

Partindo desses pontos, é preciso desenvolver uma análise crítica sobre o assunto, pensando o aspecto de progressão continuada no processo da aprendizagem, pois o que se considera um progresso do aprender, num processo continuado, se descaracteriza ao longo dos pressupostos demarcados pela política educacional vigente, comprometendo a qualidade do ensinar e do aprender, pois tanto educadores quanto educandos se sentem intimidados opressores do sistema educacional. Portanto, é preciso que haja uma extensa discussão no sentido de ampliar a compreensão desse sistema de forma positiva para a educação.

Assim, fica claro quando Nunes relata: “Trabalhar na rede estadual paulista significa trabalhar num "mar- oceano", onde há uma imensa diversidade de situações, de respostas e de condições de exercício do magistério e de prática pedagógica. Penso que os recursos oficialmente alocados quando da adoção do sistema de ciclos, e que estão aí, à disposição das escolas, precisam passar por um processo de análise mais cuidadosa acerca da sua implementação para que, efetivamente, cheguem a cumprir seu papel de assegurar a aprendizagem do conjunto dos alunos”, relato este, que completa o pensamento anterior, complementando com a implicação de se trabalhar a diversidade e  exercitar a prática pedagógica dispondo de recursos que efetivem a excelência do processo de aprendizagem dos alunos.

Como educadores, segundo Nunes, “Nós temos uma prática pedagógica muito centralizada na sala de aula. Ainda ficamos muito na frente da classe e trabalhamos em função do desempenho da média dos alunos. Hoje os desafios da educação nos impelem a buscar novas maneiras de trabalhar. Reconhecemos que os professores têm razão quando dizem que “com quarenta alunos na classe é exigir muito que se trabalhe de maneira diversificada”. É exigir muito do professor individualmente, mas, se a educação tem que ser pensada em um plano mais amplo, social e coletivo, há possibilidades de organização da escola que podem dar resposta a essa necessidade de diversificar o atendimento envolvendo diferentes profissionais em diferentes momentos e lugares. “Compete por sua vez ao sistema escolar dar respaldo a essa abertura.”

 A partir daí, cabe aos educadores e gestores, o papel de repensar os processos de acompanhamento dos alunos, formas de reforço escolar e mecanismos que a escola se apropria para explicitar o processo do ensino aprendizagem utilizando recursos como atividades extracurriculares, extra-classe, explorando o espaço escolar dentro e fora dos muros da escola, propondo desafios para a educação que permitam o enriquecimento curricular da escola, possibilitando assim, repensar as formas de organizar a escola diante do sistema político educacional a que estão submetidos.

Nunes ainda diz que, “A pedagogia das diferenças, preconizada como um valor na educação contemporânea, só pode se tornar viável quando se passa a entender o processo educacional como responsabilidade de toda a escola; quando se criam condições para que o aluno possa ser atendido em diferentes tempos e espaços da escola, o que requer uma organização muito mais flexível, em que os professores e o quadro do magistério como um todo possam vir a exercer funções a partir de novos esquemas de trabalho, menos burocratizados.”

Assim, terminamos este com a proposta de que haja por parte dos educadores e gestores uma discussão mais ampla com todas as instâncias da Secretaria de Educação e entidades afins, que poderiam levar a uma revisão do modo de operar da escola com ciclos, problematizando e propondo desafios para entender melhor o sistema e assim desenvolver um trabalho de qualidade e significativo para a efetiva aprendizagem do aluno.

Por fim, fiquemos com o complemento e observação da professora Claudia Fernandes, coordenadora do programa de pós-graduação em Educação da Unirio, "Manter alunos motivados é ter uma boa relação com eles, é ter turmas menores para que o trabalho em sala seja menos impessoal. É ter uma escola bonita, com mobiliário adequado, bem cuidada", que diz ainda, "Para isso, é necessário investimento político, pedagógico, econômico, cultural, entendendo educação para além das disciplinas tradicionais, valorizando as artes, a música, a literatura, os esportes”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos.São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2003

FERREIRA, Sebastião. A progressão continuada nas escolas estaduais e a exclusão silenciosa. São Paulo: Scortecci, 2006

NASCIMENTO, Gilberto. O fracasso de todos nós. A que ponto chegamos. Revista Educação. São Paulo, Ano 27, nº 231, julho de 2000.

PATTO, Maria Helena Souza. Exercícios de Indignação: escritos de educação e psicologia. São Paulo. Casa do Psicólogo. 2005.

Progressão Continuada Ou Promoção Automática? publicado 19/01/2008 por Angelica Lourenço Pinto em http://www.webartigos.com 
AVALIAÇÃO, Nove respostas sobre a progressão continuada, artigo para a Revista Educar para Crescer, disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/index.shtml



terça-feira, 10 de maio de 2011

A família na escola

                                       


            Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=MCi7Tj15LAI

Cresce a inclusão escolar de deficientes


Por CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

Jabes, 10, tem deficiência física e mental. Bruna, 14, paralisia cerebral. Juliana e Rafael, 8, são paraplégicos. Vinícius, 13, cego. Além de serem crianças com necessidades especiais, elas também têm em comum o fato de freqüentarem escolas regulares e estarem na mesma classe de alunos não-deficientes.

A inclusão de crianças deficientes em escolas regulares vem crescendo no país. O número de matriculados cresceu 229% nos últimos cinco anos, segundo o Censo Escolar do Ministério da Educação. Passou de 43.923 alunos em 1998, quando o censo analisou pela primeira vez a situação dos alunos especiais, para 144.583 estudantes no ano passado.

No país, há 503.570 alunos matriculados com necessidades especiais --deficiências visual, auditiva, física e mental. Do total, cerca de 30% freqüentam escolas que oferecem o ensino regular --em 98, eram 13%. O restante está em escolas ou salas especiais.

A recomendação para que pessoas com deficiências sejam educadas na rede regular de ensino está na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). O Brasil é também signatário de uma declaração internacional que selou o compromisso de garantir acesso à educação inclusiva até 2010.

Se por um lado o acesso às escolas cresce a cada ano, por outro ainda são precárias as instalações físicas, a oferta de material didático-pedagógico e a capacitação de professores para o atendimento dessas crianças.

"Soubemos de um caso de uma criança com síndrome de Down que fica perambulando durante o período de aula pelos corredores da escola. Quem acaba tomando conta dela é a copeira", afirma Edigilson Tavares, coordenador do Instituto Apae, que oferece cursos de capacitação a professores do ensino regular.

Na opinião de José Rafael Miranda, coordenador-geral de desenvolvimento da Secretaria de Educação Especial do MEC, o problema não é falta de recursos. Há verbas federais e de organismos internacionais para projetos que promovam a inclusão da criança deficiente nas escolas, afirma Miranda.

"O país é riquíssimo em leis que protegem as crianças com necessidades especiais. Mas falta sensibilidade para alguns gestores da educação. Ainda há medo e preconceito", diz.

Outro problema é a falta de apoio terapêutico. Muitas das crianças que freqüentam as escolas regulares não conseguem fazer as terapias necessárias (fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, psiquiatria, entre outras) por falta de acesso a locais especializados.

Em Itaquera (zona leste), por exemplo, a fila de espera para ser atendido por uma psicóloga da rede pública de saúde é de 2.000 pessoas. A rede também não dispõe de psiquiatra na região.

"Quando conseguimos vaga em entidades conveniadas, há o problema do transporte. Muitos pais desistem do tratamento porque não têm como arcar com essa despesa", afirma Maria Elisa Frizzarini, supervisora da coordenadoria de educação da Subprefeitura de Itaquera.

É o caso da menina Bruna Lima do Nascimento. Portadora de paralisia cerebral adquirida por problemas no parto, ela não anda, quase não fala e apresenta movimentos bruscos involuntários. Estuda com outros 30 alunos em uma sala da 2ª série do ensino fundamental na escola municipal Benedito Calixto, no Jardim São Pedro (zona leste).

A mãe de Bruna, Maria Lopes de Lima, 45, diz que a filha deveria estar sob cuidados de uma terapeuta ocupacional, mas não há dinheiro para bancar o tratamento. A única renda da casa é a pensão de R$ 240 que a menina recebe em razão da sua deficiência.

Ainda assim, ela acredita que a menina progrediu desde que passou a freqüentar uma escola regular. "Ela já consegue pronunciar algumas palavras, aponta a sala de aula e reconhece os colegas."

Entre os educadores, há os que defendem a inclusão imediata das crianças em classes regulares e outros que preferem a inclusão gradativa, na qual as crianças freqüentam primeiro uma sala especial na própria escola, interagindo com os outros alunos em atividades específicas, para depois entrarem em uma classe regular.

Para Miranda, do MEC, as crianças com deficiências mentais, físicas, visuais e auditivas conseguem inúmeros progressos em classes de ensino regular convivendo com o diferente.
"A linguagem é acelerada e eles aprendem novos conceitos brincando com as outras crianças", diz Sônia Silva, coordenadora de estudos e novas pedagogias da Secretaria Estadual da Educação.

Fonte: http://www.pedagobrasil.com.br/educacaoecia